sábado, outubro 21, 2006

Ranking de universidades do Times

A propósito da posição das universidades portuguesas no ranking mundial do britânico Times (presumo que no seu Higher Education Suplement), JV Costa escreveu ontem nos seus Apontamentos que não via relação entre a posição no Top200 e numa série de outros indicadores (população, PIB, % PIB gasto no Ensino Superior e despesa/aluno).

Acho que comparar posições não ajuda, por isso decidi fazer uma tabela comparativa semelhante, mas com os valores em vez das posições de cada país. Ficou assim:

As fontes foram a compilação de dados do PIB per capita da Wikipédia e o Education at a Glance 2006 (www.oecd.org/edu/eag2006).

A coluna 6 (ES/PIB per capita) foi obtida pelo produto das coluna 4 e 5.

Aparentemente, não há grandes correlações, mas uma análise mais aprofundada revelou uma correlação positiva, embora pequena, entre o nº de universidades do país no Top200 e a respectiva despesa por aluno. O que não me espanta.

Por outro lado, usando análise de clusters obtive 3 clusters: num deles aparecia Portugal isolado, outro englobava a Suiça, a Dinamarca, a Irlanda e a Noruega e o terceiro agrupava os restantes 10 países em análise. A única coisa saliente parece-me ser que esta análise coloca Portugal como um caso sem nada em comum (ou tão pouco que não permitiu juntá-lo com outros países) com o resto dos países.

Depois, olhando para a tabela parece-me que há dois factores importantes. Um é a escala. De facto, todos os países com mais de 6 milhões de habitantes precisam de um gasto por aluno acrescido (>10.000 $PPP). Caso contrário, não obtêm boa classificação no Top200.

O outro factor relaciona-se com este. Independentemente da escala, se o gasto por aluno for inferior a 9.000 $PPP, o país não obtém boa classificação no Top200. A Espanha e a Itália são exemplos disto: apesar da população (43 e 58 milhões de habitantes), gastam pouco por aluno e, consequentemente, têm apenas uma universidade cada no Top200.

Portugal sai realmente fora do baralho: gasta muito menos por aluno e, apesar de ser o 7º mais populoso da lista, não tem universidades no Top200. Como seria de esperar.

Em resumo, desta análise (possivelmente errónea), parece-me que há um factor decisivo: o gasto por aluno em valor absoluto. É necessário gastar um valor mínimo para obter resultados de qualidade. Depois, ter escala (em termos de população) permite, aparentemente, alguma economia: os países mais populosos desta lista estão muito longe de serem os mais gastadores (por aluno ou em PIB per capita).

Isto faz algum sentido: os custos nas universidades não devem ser muito diferentes de país para país e, portanto, quem investe menos tem menos condições e logo menor qualidade. Não esquecendo que há, aparentemente, um valor mínimo que é preciso gastar. Acima desse mínimo parecem existir outros factores que condicionam o desempenho.

No fundo, o problema é de eficiência da economia: temos um PIB per capita muito baixo, o que dificulta que se gaste o mínimo essencial para resultados de qualidade nas nossas universidades.

Ora aqui está um resultado interessante para contrapôr à redução das transferências que as universidades irão receber do Orçamento de Estado em 2007. Para não falar dos 7,5% sobre a massa salarial total que passarão a ter de pagar em 2007, relativos ao pagamento para a Caixa Geral de Aposentações, de que estavam isentas até agora (ver Semanário Económico, 20/10/2006, pág. 8 suplemento OE2007).

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