domingo, novembro 12, 2006

Processo de Bolonha em Espanha

Ainda sobre Bolonha, não resisto a referir o documento de trabalho, publicado em Setembro de 2006, pelo Ministério de Educação e Ciência espanhol, intitulado: “La Organización de las Enseñanzas Universitarias en España”.

Este documento apresenta um mapa do caminho a seguir em termos da implementação do Processo de Bolonha em Espanha. São gritantes as diferenças relativamente a Portugal, a começar pela pressa. Ou falta dela, no caso espanhol. Assim, o objectivo em Espanha é ter o processo a funcionar no ano lectivo 2008/2009. Para tal estabelecem uma calendarização para as diversas etapas. Não resisto a apresentá-la aqui:

Depois há diferenças de fundo: foram feitos estudos sectoriais há já algum tempo, que culminaram numa série de “libros blancos” por disciplina. Embora ainda existam coisas a discutir, como se pode ver da calendarização, as opções essenciais já foram estudadas e toda a informação relevante está compilada e disponível.

Um resultado já: os espanhóis optam por licenciaturas (primeiros ciclos) de 4 anos. Aliás, começo a pensar que talvez não seja má opção. Afinal, é a seguida em muitos países, nomeadamente nos EUA, Canadá e em boa parte do Reino Unido.

O 3+2 não é a regra, nem tem de ser.

Além disso, os espanhóis parecem cientes de que este processo comporta mudanças essencialmente ao nível do modo como o ensino é conduzido. Prova disso é o documento "Propuestas para la Renovación de las Metodologías Educativas", publicado pelo Consejo de Coordinación Universitaria, que pode ser obtido em PDF aqui.

sábado, novembro 11, 2006

Os alunos universitários ingleses e os seus horários

Durante as últimas semanas dei com alguns documentos verdadeiramente interessantes. Um deles é o relatório HEPI (Higher Education Policy Institute), intitulado “The academic experience of students in English universities”.

Como o nome indica, trata-se de um estudo de larga escala, baseado em inquérito, para tentar perceber como é a experiência de estudar nas universidades britânicas. E tem alguns resultados surpreendentes (ou talvez não).

O primeiro, e que tem sido mais relatado, é a diferença entre o número médio de horas de estudo necessário para obter um mesmo grau, nas diferentes universidades. E como variam! No entanto, eu não estranho por aí além, uma vez que há grande diversidade no sistema universitário britânico. O perigo é extrapolar que um maior número de horas de estudo significa um curso mais exigente ou de melhor qualidade, porque não existe necessariamente uma relação directa. A este título é exemplar a discussão dos resultados apresentada no Guardian pelo Chief Executive da Higher Education Academy, que foi a entidade que encomendou o estudo.

No entanto, o que achei mais interessante foi o grau de satisfação geral dos alunos (página 31 do relatório).

Que se revela num outro indicador, que é o da percentagem de aulas a que os alunos faltam. O valor médio é 8% (portanto, em média, faltam a menos de uma aula em cada 10)!! O máximo (em Ciências da Computação) é de 13% e o mínimo (que acontece nos cursos de Educação) é de 2%.

Não deixa de ser curioso que as universidades andem a tentar que os alunos assinem contratos comprometendo-se a assistir às aulas. Mais claro fica que não é este objectivo declarado o mais importante, como já referi num comentário a um artigo do JV Costa sobre este assunto.

Ainda relativamente à questão das horas, é de analisar o número de horas semanais de aulas que os alunos têm marcadas nos seus horários. Assim, este número varia entre uma média de 21 horas semanais em Medicina e Medicina Dentária e cerca de 8 (oito!) horas semanais para Filosofia e História. Revelador é o valor médio para todos os cursos: 14 horas semanais.

Pergunto eu: que universidade portuguesa se atreveria a apresentar horários com um total de 8 horas semanais de aulas (mesmo em cursos de História e Filosofia)? Ou médias de 14 horas semanais?

Em Portugal o que é regra é superior ao número de horas semanais máximo em Inglaterra!

E que esforço tem sido conseguir que as “adequações a Bolonha” apresentem planos de estudos com menos de 22 horas de aula semanais! Podíamos certamente aprender alguma coisa aqui com os ingleses.