terça-feira, novembro 06, 2007

O Ensino Superior e o Orçamento de Estado/2008

Começou hoje a discussão do Orçamento de Estado (OE) para 2008 na Assembleia da República, o que me serve de pretexto para salientar que as Instituições de Ensino Superior continuam a ser objecto de forte desinvestimento público, num tempo em tal jamais deveria acontecer.

Assim, segundo dados do Jornal de Negócios, a verba do OE destinada ao Ensino Superior, em percentagem do PIB, passou de 0,82% em 2006 para 0,72% em 2007 e será (previsivelmente) de 0,70% em 2008.

Para se ter uma ideia, a média nos países da OCDE rondava 1% em 2004 (apenas financiamento público; 1,4% se juntarmos o investimento privado - dados do Education at a Glance 2007). Só por curiosidade, em 2004 a OCDE refere o financiamento público do Ensino Superior em Portugal em 0,9% do PIB (1,7% na Finlândia, tão boa para outras comparações...).

Aliás, a própria a OCDE recomendava, na sua avaliação do Ensino Superior português em 2006, um incremento do esforço do financiamento público às universidades e aos politécnicos. Portanto, é fácil de ver que caminhamos no mau sentido.


Repare-se que em valor absoluto não é uma verba exagerada. Parece muito, 1183 milhões de euros, mas podemos comparar com os mais de 700 milhões de euros orçamentados para pagar as SCUT em 2008. Transferidos para o Ensino Superior estes 700 milhões seriam um aumento de 59% e colocariam o investimento público no Ensino Superior em 1,1% do PIB.

Opções... A ver vamos o que as auto-estradas gratuitas contribuirão para o desenvolvimento futuro do país.

Para além desta questão meramente comparativa, há a situação em que o Ensino Superior superior se encontra em Portugal, em plena adaptação ao Processo de Bolonha (que só por si justificaria um investimento adicional, como acontece aqui ao lado, em Espanha).

Outro factor que importa considerar no caso português é que o número de alunos a entrar no Ensino Superior está novamente a aumentar e, a fazer fé nos números do sucesso escolar no ensino secundário, deverá assim continuar. Olhem-se os números:

QUADRO I

CONCURSO NACIONAL DE ACESSO (1.ª e 2.ª fases): 2003 a 2007

Ano

Colocados

Variação dos colocados

2003

40 236

-

2004

39 101

-3 %

2005

37 896

-3 %

2006

40 533

+7 %

2007

47 353

+17%

2007: colocados no final da 1.ª fase após as matrículas e na 2.ª fase antes das matrículas.
(Fonte: MCTES)

Isto sem considerar os chamados novos públicos, isto é, todos os que não ingressam imediatamente após o ensino secundário ou equivalente, mas sim após algum tempo (vulgo maiores de 23).

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O Erasmus vale a pena?

O título centra a questão no programa de intercâmbio de estudantes mais conhecido dos portugueses, o Erasmus, embora existam outros.

A pergunta, obviamente pertinente, obtém uma resposta curiosa num artigo recente:
The number of university students participating in exchange programs has risen sharply over the last decade. A survey of Swiss university graduates (classes of 1999 and 2001) shows that participation in student exchange programs depends significantly on the socio-economic background of students. We further analyze whether the participants benefit from additional advantages caused by these exchange programs. Analyses show that student exchange programs are associated with higher starting salaries and a higher likelihood of opting for postgraduate degrees. Analyses using instrumental variable estimations (IV), however, show that these outcomes are not causally related to participation in exchange programs.
O texto acima citado é o abstract do artigo Are student exchange programs worth it? (Messer, D; Wolter, SC. HIGHER EDUCATION, 54 (5): 647-663; OCT 2007, acessível na rede académica aqui).

Em primeiro lugar, repare-se que o estudo foi feito na Suíça, com estudantes suíços. Ainda assim, a primeira conclusão (que nada me surpreende) é que a participação nestes programas depende significativamente da proveniência sócio-económica dos estudantes. Isto é, se a família tem ou não recursos para suportar a sua participação. Acerca disto leia-se o que escreveu JV Costa, sobre a sua própria experiência.

A segunda conclusão (mais surpreendente) é que não foi possível apurar qualquer relação de causalidade entre a participação destes estudantes nos programas de intercâmbio e os salários mais elevados que auferem ao entrar no mercado de trabalho ou a sua maior propensão para seguir estudos de pós-graduação.

Diria, sem grande probabilidade de errar, que tanto os salários mais altos como a propensão para continuar estudos é explicável pelo mesmo factor que já condicionou a sua participação nos tais programas de intercâmbio: o nível sócio-económico das respectivas famílias.

Dito de outro modo, tal como no sucesso escolar em geral, o principal factor de sucesso é ter a sorte de nascer numa família de gente instruída e de bons rendimentos!

Se é assim na Suíça...

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