terça-feira, maio 03, 2011

Sobre a morte de Osama bin Laden

Uma opinião interessante publicada no TNR por Sean Wilentz.

Essencialmente analisa o silêncio súbito dos promotores das teorias da conspiração contra os democratas e o presidente Obama em particular:
"There is some truth, alas, to claims that the lurid attacks on Obama have had something to do with his skin color. But the cycle of paranoia preceded his appearance on the national stage, and was deployed as a highly-effective political strategy that capitalized on the all-too-real challenges of Al Qaeda and the war on terrorism. Now, suddenly, reality has intruded—this time with gratifying and not horrifying news. President Obama and his administration have achieved bin Laden’s demise. The menace of course persists, but a circle has been closed, and a spirit of relief prevails. But will bin Laden’s death end the cycle of malicious fantasy and political paranoia that has held the country in its grip?"
Tenho certeza que a resposta, infelizmente, é um rotundo NÃO, precisamente porque se tem revelado uma "estratégia política altamente eficaz". Além disso, a frase chave é "a ameaça persiste".

domingo, maio 01, 2011

O elevado custo de pagar pouco aos professores

Claro que este artigo de opinião do New York Times se refere à realidade americana, mas não deixa de ser relevante.

Um excerto:
"People talk about accountability, measurements, tenure, test scores and pay for performance. These questions are worthy of debate, but are secondary to recruiting and training teachers and treating them fairly."
O problema em Portugal não é exactamente recrutar para a profissão docente os melhores licenciados (agora mestres) que saem das universidades, mas de algum modo conseguir atrair para os cursos de formação de professores alunos verdadeiramente interessados em ensinar e com bons antecedentes escolares. De facto, boa parte dos alunos dos cursos de formação de professores apenas os frequentam porque não conseguem ingressar noutros mais atractivos.

Em Portugal, a profissão docente ainda não atingiu o nível de falta de atractividade que já tem nos EUA, mas para lá caminha.

O ideal seria pensar a longo prazo e fazer como se tem feito na Finlândia, Singapura e Coreia do Sul, onde os professores são recrutados de entre os melhores que saem das universidades (veja-se o recente relatório produzido sobre este assunto pela McKinsey, disponível aqui).

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Polémico e provocativo

Ainda assim, vale a pena ler o artigo de opinião do New York Times intitulado "A New Measure for Classroom Quality".

Basicamente advoga que a qualidade do ensino é directamente proporcional ao tempo que o professor passa realmente a ensinar.

Assim, segundo a opinião deste autor (R. Barker Bausell):
"A focus on relevant instructional time also implies several further reforms: Lengthening the school day, week and year; adopting a near-zero-tolerance policy for disruptive behavior, which classroom cameras would help police; increasing efforts to reduce tardiness and absenteeism; and providing as much supplementary and remedial tutoring (the most effective instructional model known) as possible."
No mínimo, polémico.

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terça-feira, abril 26, 2011

Doentes, pacientes ou consumidores?

Doentes, pacientes ou consumidores de serviços de saúde? Vale a pena ler Paul Krugman no seu melhor, no New York Times.

Só um cheirinho:

"The idea that all this can be reduced to money — that doctors are just “providers” selling services to health care “consumers” — is, well, sickening. And the prevalence of this kind of language is a sign that something has gone very wrong not just with this discussion, but with our society’s values."

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quinta-feira, maio 13, 2010

Aumento de impostos

O Governo apresentou hoje medidas adicionais ao PEC 2010-2013. Entre estas medidas, constam as alterações nas taxas do IVA. Como notícia o Público:
No IVA, apesar de ter chegado a estar em cima da mesa uma subida de três pontos, o gravamento da taxa normal será de "apenas" um ponto, voltando para 21 por cento. No entanto, a taxa reduzida do IVA (que é aplicada a produtos de maior necessidade) passa de cinco para seis por cento. E a taxa intermédia de 12 por cento, que está em vigor, por exemplo, nos restaurantes, passa para 13 por cento.
Acho inaceitável que a taxa reduzida sofra um aumento desta ordem. Parece só 1%, mas corresponde a pagar mais 1/5 ou 20% sobre bens que são essencialmente de primeira necessidade (alimentos, medicamentos e outros bens essenciais). A taxa intermédia também não devia ter sido mexida, embora as consequências sociais sejam menos graves e o aumento relativo sempre é menor (uma coisa é aumentar 1% em 5%, outra aumentar 1% em 12%).
Era de longe preferível deixar estas taxas inalteradas e mexer apenas na taxa normal, eventualmente aumentando-a de 20 para 23% (o valor escolhido na Grécia).
Como de costume, estas medidas não aparecem acompanhadas de valores estimados. A estimativa que conheço é de que um aumento de 1% na taxa normal de IVA (actualmente em 20%) corresponde a sensivelmente 500 milhões de euros por ano. Assim, aumentar a taxa normal de IVA para 23% permitiria um encaixe de 1500 milhões de euros. Muito maior do que a estimativa que o Público faz das subidas no IRS (350 milhões de euros).
Os cortes na despesa parecem-me pouco sérios e de impacto orçamental reduzido. Reduzir em 150 milhões de euros as transferências para empresas públicas, além de ter um impacto reduzido nas contas públicas, suspeito que dará apenas um aumento do défice destas empresas (a cobrir no futuro e, portanto, não constitui poupança alguma). O mesmo se passa com a redução de 100 milhões de euros nas transferências para as autarquias, ou irão estas cortar serviços essenciais ou individar-se?
Quanto ao corte de 5% nos salários dos políticos, parece-me bem, mas o impacto nas contas deve ser muito pequeno. O Público fez as contas ao Presidente da República, Governo e Assembleia da República e a poupança fica-se pelos 341.000 euros… Talvez com os gestores públicos e autarcas o valor suba, mas duvido que passe da meia dúzia de milhões de euros!
Enfim, acho que ninguém quer resolver realmente o problema e, mais grave, parece que se tenta resolver, mas o objectivo é realmente evitar grandes impactos na sociedade.
Mais fantástico é o líder do PSD ir na onda, subscrevendo na íntegra estas medidas. Politicamente, nada podia ser mais desastroso.
Espero que resulte mas, do ponto de vista económico, meias medidas nestes casos são muito piores do que atacar de frente o problema, mesmo correndo o risco de pecar por excesso na aplicação do remédio.

sábado, maio 01, 2010

Relações próximas

Notícia do Público de hoje:

http://www.publico.pt/Sociedade/parque-escolar-entrega-projectos-a-colegas-de-administradora_1434931

Página da Sra. Prof. Teresa Frederica Tojal de Valsassina Heitor, a administradora da Parque Escolar visada na notícia acima:

http://www.civil.ist.utl.pt/infoPessoal.php?pid=140&sid=7

Página do Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior:

http://www.portugal.gov.pt/pt/GC18/Governo/Perfis/Pages/ManuelFredericoTojaldeValsassinaHeitor.aspx

Porque será que a notícia do Público não refere a relação familiar entre os dois?

terça-feira, dezembro 08, 2009

Nelson Lima e o Instituto da "Inteligência"

Farto de encontrar o nome deste "especialista" nos media portugueses (Expresso, Público, JN, RR, TSF,...) e de ler notícias sobre estudos realizados pelo Instituto da Inteligência (IdI), decidi investigar melhor de quem se trata e o que fazem.

Pois é muito interessante. O senhor Nelson Lima reclama-se "Ph.D in Psychological Research from Bircham International University". Ver aqui.

Sobre esta universidade, uma pesquisa rápida releva isto:
"Bircham International University describes itself as an international distance education university. It formerly operated from the Bahamas, or the United Kingdom, and is now registered in Spain. It has no recognized educational accreditation in any of these places."
e isto:
"Because BIU is not accredited by a recognized accreditation body in the countries where it operates, its degrees and credits might not be acceptable to employers or other institutions, and use of degree titles may be restricted or illegal in some jurisdictions." Pode conferir-se aqui. Notem-se as referências.

Traduzindo: a universidade (de ensino exclusivamente à distância) não é reconhecida em país nenhum e os diplomas que emite valem ZERO.

Adicionalmente, este senhor não possui nenhum doutoramento reconhecido em Portugal, como se pode verificar na base de dados nacional.

O que é grave é que os media portugueses colocam lado a lado em várias "notícias" as opiniões deste "neuropsicólogo" com as de especialistas e académicos sérios e devidamente habilitados.

Adicionalmente, algumas escolas (uma das muitas e confusas páginas de Internet refere que "desde a sua fundação, o Instituto da Inteligência já esteve presente em mais de 120 escolas públicas em Portugal") e associações de pais parecem ter sido seduzidas por este "especialista" e pelo seu instituto.

Qual é o mal, perguntarão alguns? Bem, eu não confiaria num especialista com estas credenciais. Por outro lado, os estudos a que alude não se encontram publicados em revistas científicas com arbitragem científica (isto é, onde os artigos são revistos por outros especialistas com créditos firmados). Aliás, tenho dúvidas que se encontrem publicados de todo, pois não consigo encontrá-los. Assim, é impossível avaliar a sua qualidade científica.